terça-feira, 31 de maio de 2011

Pseudo-paixão

Não lembro exatamente quando isso começou, basta saber que, a partir daquele dia, ele sempre soube onde (e quando) me encontrar. Quando eu menos espero lá vem ele na contramão, sorriso peculiar, bom humor infindável, olhos cor-de-café e palavras agradáveis a me esperar: anestesia para corpos desejados, mentes cansadas e almas carentes. Entre quatro paredes daquele carro com cheiro-de-recém-comprado, quando o jazz dá ao meu corpo a verdadeira idade... enfim, todo e qualquer tipo de convivência que sirva de pretexto para que os olhos e bocas e corpos desaprenderam a disfarçar: desejo. Ele para o carro."Me devore", lê em mim. Toques experientes mexem com exaltidão minhas curvas (até então) ingênuas: além de saber por onde eu ando, ele também aprendeu a me interpretar. E eu tomo dele a responsabilidade dos seus cabelos-quase-grisalhos, e ele leva toda minha inocência... e minutos fingem ser horas: ele menino, eu mulher.
Desde então tem sido assim: quase uma prostituição.
Palavras que se embaçam junto aos vidros; vazios deliciosamente preenchidos por instinto.
Na verdade, o meu contentamento sempre se deu em sair daquele carro com uma mistura de dúvida e certeza, imaginando que ele vai voltar em uma tarde qualquer, e seremos nossos, mesmo que nos 30 minutos de seu horário livre - tempo que eu levo sem que as pessoas percebam meu atraso, pra chegar em casa... e lá, estendo o meu sorriso por dias, e o jazz é que me faz companhia dentre essa liberdade incerta, recíproca e imensa.

Aqui

Há, no seu jeito de querer o meu sangue, e querer a minha paz, e querer a minha dor; algo de doce. Há, no silêncio do seu riso um som que perfura meus tímpanos, e perfura minhas veias, e consome minha alegria. Algo que no último instante me faria implorar pela morte, pois a eternidade seria pior.

Há, nesse ódio recíproco, algo de amor.