terça-feira, 14 de dezembro de 2010

L'excessive

Chegou a hora d'eu ir.
Roupas, dinheiro, o vinho santo
Deixei tudo em seu devido canto
Mas eu...
Sei que não caibo mais aqui.

Minha múltipla personalidade
Não permite esconder:
Preciso engolir, devorar,
Me perder, me achar... Fugir, sem ter um cais
Saciar minha sede de mais.
Amo você, mas mais ainda a minha liberdade.

E na grandeza da cidade, as coisas cruas da vida:
Nos corpos, observo as feridas
Nas almas, sinto as ausências
Nos corações, restam carências
Nas mentes, só as loucuras...
Cada homem, uma criatura

Não sei onde vou chegar
E quero que ninguém me siga.
Não sei se um dia vou parar
Ou se alguma coisa vou conseguir...
Mas vou. Sem máscaras, proteções ou escudos,
Vou atrás de tudo: tudo aquilo que me instiga.

Pequena Mariella

Mariella, minha pequena. Queria te falar umas coisas, mas minha voz já quase não sai. Te chamei, você não ouviu... sua revolta falava mais alto na porta da cozinha. Já não aguento mais essa televisão; definitivamente, ela não serve mais pra me distrair. As letras dos livros parecem estar menores, já não enxergo com tanta facilidade. Quando leio, logo me dá dor de cabeça. Eu gosto mesmo é de ouvir você cantando Chico Buarque enquanto toma banho... minha audição não é das melhores, eu sei, mas dá pra ouvir você cantar, bem baixinho... como uma oração. Ah, o Chico... a voz dele me arrepia até hoje, sabia? Ô homem que me encanta.
Como eu comecei escrever lá em cima, tinha umas coisas pra te falar. Como não consegui, resolvi te escrever. Minha letra não é das melhores, mas acho importante que você saiba: é que ontem eu ouvi você conversando com seu pai... não sei bem se ele prestava tanta atenção em você - daqui da cama, dava pra ver você indo pro lado e pro outro atrás dele -, mas eu ficava atenta a cada detalhe do que você dizia. Lembro de te ouvir falar sobre a artificialidade das pessoas hoje em dia, da importância que as pessoas dão ao que os outros dizem e de você se sentir diferente entre seus colegas de colégio. Quero que você saiba que isso não é de hoje em dia - pelo contrário, a liberdade que vocês tem de expressão é bem, bem maior mesmo... é que você não viveu na época da ditadura. Ninguém podia ser o que queria... obedeciam e pronto. As pessoas podem te achar estranha, mas você tem ao menos o direito de ser como é. E sobre elas se importarem com o que os outros dizem... um dia elas vão perceber que isso não adianta nada.
Mas a verdade é que você me fez voltar no tempo...
Eu estava numa festa, na casa de um amigo meu... pense num cara que só tinha amigos fodas. Fodas mesmo! Todos adultos, mas adultos diferentes... gente que enxergava muito além. Mentes abertas, mentes brilhantes. Sentada num canto, eu observava, admirava todos eles. Até que um chegou perto de mim, e perguntou que faculdade eu fazia, ou se eu era 3º ano. Falei que era 8ª série e tinha 14 anos. O silêncio tomou conta por uns segundos mas não demorou muito até ele falar as palavras que eu, até então, não esqueço. Ele falou sobre sua desesperança com a juventude da época, e que eu era o tipo de pessoa que fazia ele perceber que esse tipo de gente - as pessoas de alma, pessoas que vêem além, que procuram um motivo pra viver - sempre ia existir. E que, enquanto houvessem pessoas assim, elas iriam se encontrar... afinal, algo teria que uní-las. Sejam os gostos musicais, os lugares que frequentam, as pessoas que conhecem... elas não vão iriam ser sozinhas. E é isso que eu quero que você saiba.
Por mais que pense que é exceção, Mariella, você não está sozinha. Logo você, tão detalhista e perspicaz... leia as entrelinhas, você vai ver. Use todo o potencial que há dentro de você. Saia por aí, procure essas pessoas - e una-se a elas. Peço a você, pequena, de todo o meu coração: não desista de você!
Eu imagino o universo inteiro, e vejo o planeta Terra pulsando. Vocês são o coração desse mundo... por favor, não deixem ele morrer.

Seu doce predileto

Ela é uma moça de poses delicadas,
sorrisos discretos e olhar misterioso.
Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice,
uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser,
um toque de intuição e um tom de doçura.
Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude,
uma solidão de artista e um ar sensato de cientista.
Ela é intensa e tem mania de sentir por completo,
de amar por completo e de ser por completo.
Dentro dela tem um coração bobo,
que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez.
Ela tem aquele gosto doce de menina romântica
e aquele gosto ácido de mulher moderna.